Instigante, genial e sofisticado, ao mesmo tempo, o novo romance de Antonio Mello se passa no Rio de Janeiro do início dos anos 1990. Rio de Janeiro, início da década de 1990. Eleição de Fernando Collor. Esse é o cenário do novo romance de Antonio Mello, Madame Flaubert, da Editora Publisher Brasil. O título da obra faz uma brincadeira com a afirmação do escritor Gustave Flaubert, madame Bovary c’ est moi, e já dá pistas ao que o leitor vai encontrar: um romance dentro de um romance, dentro de um romance, como se fosse uma boneca russa. Ou como define o professor de Teoria da Literatura da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Gustavo Bernardo, “sugere, também, uma daquelas gravuras de M. C. Esher, em que as figuras que parecem sair de um quadro ou de uma folha de papel se encontram, por sua vez, em outro quadro ou folha de papel”.
Instigante, a obra tem como personagem principal Antonio C. e a história de sua Ema Bovary. “A história mostra personagens em crise procurando tanto o sucesso quanto o sentido, comumente confundindo um com o outro”, diz Bernardo, que considera o romance excepcional.
“Lê-se como se fosse um romance genial e sofisticado e, ao mesmo tempo, lê-se como se fosse um romance policial e eletrizante. Ou seja: a chamada alta literatura mistura-se desavergonhadamente com a chamada baixa literatura, a literatura popular, de mercado, e o resultado é fascinante.” – Gustavo Bernardo
Sobre o autor
Antonio Mello é publicitário. Madame Flaubert é seu terceiro livro. Publicou A metáfora de Drácula (Rio de Janeiro: José Olympio, 1982) e A fome e o medo (Rio de Janeiro: edição da InternAD,1998). Mantém um blog sobre política, o Blog do Mello.
Trechos do livro
Se o incauto soubesse aonde esse convite o levará, provavelmente não o entregaria a ela. Se ao passar para as mãos de Ema o pequeno envelope, o adicto tivesse noção da enxurrada de fatos novos que virarão sua vida de pernas para o ar, talvez houvesse ficado quieto ouvindo pacientemente a ladainha collorida da mulher. Mas ele fez o gesto, e irá se arrepender disso pelo resto de seus dias. (….) Ema chega-se a ela, os seios ainda firmes – agora mais, como se olhassem o colar acima. Abraça-a. Marina retribui. Aperta-a contra si, como se quisesse recuperar no abraço a loura que foi, possuindo a morena. Mas aperta-a com tanta força, que Ema se assusta, afasta-se, lenta, delicadamente. E percebe que Marina chora. (…) Para algumas pessoas, o mundo é feito de indecisões, caminhos que se bifurcam, inúmeras possibilidades. Para Ema não. Ela sabe, e sempre soube, o que quer. A vida não tem mistérios – apenas desejos insatisfeitos. E projetos.
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