O volume 2 da Enciclopédia do Golpe (Projeto Editorial Praxis/Declatra, 2018) reúne 28 verbetes e trata especificamente do papel da mídia na desestabilização do regime democrático. Foram convidados, para esta tarefa de desnudar o papel do oligopolizado mercado brasileiro da informação, neste período sinistro da democracia brasileira, jornalistas, cineastas e especialistas em uma vasta área de conhecimentos – ciência política, sociologia, economia e direito.
Uma parte dos jornalistas que contribuíram com suas reflexões trabalhou em grandes jornais e revistas e viu, de dentro, a reconformação do protagonismo político da mídia eletrônica aos interesses do capital financeiro globalizado no qual o país se inseriu após os governos de Fernando Henrique Cardoso, a atuação político-eleitoral desses veículos, em regra contra o fantasma do PT e de Lula, e o acirramento do reacionarismo deles após a ascensão do partido de esquerda ao poder. Assistiu também a apropriação por esses veículos dos novos meios de comunicação eletrônico que surgiam, quer materialmente, quer ideologicamente.
Os cientistas sociais, cientistas políticos e filósofos, por meio da quantificação, análise de discurso e entendimento da mídia como talvez o principal protagonista do golpe (só rivalizando com o Judiciário, outro poder sem voto dessa arena política), retiram o véu da imparcialidade da mídia e dão à intenção política desses grandes grupos familiares uma clareza cristalina. A imbricação desses interesses com os do capital financeiro e o uso da entidade “mercado” como indutor de ações políticas – uma entidade capaz de punir os que não concordarem com ela – é igualmente analisado.
Os especialistas do direito traçam os caminhos da absurda aliança que se formou entre mídia, Justiça, Ministério Público e Polícia – todas essas instituições desgarradas do Estado, com autonomia perante as respaldadas pelo voto popular – em que a mídia cria o clima de pânico para justificar (ou até induzir) uma decisão judicial arbitrária, e a Justiça tem ações legitimadas pela interpretação benigna de seus abusos pelos barões da mídia e seus porta-vozes, num ciclo perverso de exclusão de adversários políticos pelo uso de poderes autodelegados.
Coordenada por Giovanni Alves, Maria Inês Nassif, Miguel do Rosário e Wilson Ramos Filho e organizada por Mírian Gonçalves, a Enciclopédia é dedicada às gerações futuras, para que elas não sejam, como foi uma parte dos brasileiros contemporâneos, reféns da mentira disseminada como oxigênio pelos meios de comunicação hegemônicos, do abuso Judiciário, e da negação da soberania popular por uma instituição também originária do voto, o Legislativo.
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